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Mostrando postagens de julho, 2014
Thomas Merton, conhecido em seu mosteiro como Pe. Luís, nasceu em 31 de janeiro de 1915, em Prades, no sul da França. O jovem Merton freqüentou escolas na França, Inglaterra e Estados Unidos. Na Universidade de Columbia, em Nova York, sofreu influência de alguns notáveis professores de literatura tais como Mark Van Doren, Daniel C. Walsh e Joseph Wood Kruch. Merton entrou na Igreja católica em 1938 no rastro de uma dramática experiência de conversão. Logo depois, ele completou sua tese de mestrado, "On Nature and Art in William Blake." [Sobre a Natureza e Arte em William Blake]. Após lecionar cursos de extensão na Universidade de Columbia e no "St. Bonaventure's College", Merton ingressou na comunidade monástica da Abadia de Gethsemani, no Kentucky, em 10 de dezembro de 1941. Ele foi acolhido pelo abade Frederic Dunne que incentivou o jovem Irmão Luís a traduzir obras da tradição cisterciense e escrever biografias históricas visando tornar sua Ordem melhor c

Os Monges de Atlas: Amantes do Lugar e dos Irmãos

por Dom Bernardo Bonowitz, OCSO* 1/6/2011 - Um pouco do contexto histórico em que os sete monges cistercienses do mosteiro de Nossa Senhora de Atlas, na Argélia, martirizados quinze anos atrás, no dia 21 de maio de 1996 Foi a Alberico, segundo abade de Cîteaux no início do séc. XII, que a descrição foi dada pela primeira vez: “Amante do lugar e dos irmãos”. Desde então, estas palavras passaram a constituir o maior elogio que um monge cisterciense poderia dar a outro. Um verdadeiro cisterciense, nesta acepção, é alguém que, pelo lento e seguro trabalho do Espírito Santo, chega a se identificar totalmente, por amor, com o mosteiro no qual ele passa a sua vida e com a comunidade dentro da qual, e com a qual, ele busca a face de Deus. Nestas breves palavras em latim, amatores loci et fratrum, percebemos a centralidade do amor no carisma cisterciense. Melhor ser reconhecido como alguém que ama do que ser aplaudido como “santo” ou “místico”. E melhor amar com ardor e perseverança o lugar e

Os Sete Mártires de Atlas

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  O Mosteiro de Nossa Senhora de Atlas foi fundado pela Ordem Cisterciense da Estrita Observância em Tibhirine, na Argélia. Por se tratar de um país de maioria muçulmana, o mosteiro nunca teve muitas vocações e sua presença sempre foi um testemunho amistoso de diálogo inter-religioso. A partir do final da década de 1980, grupos islâmicos fundamentalistas começam a espalhar o terror pelo país, em especial contra os estrangeiros e as minorias não-muçulmanas. A onda de violência atinge o mosteiro pela primeira vez no Natal de 1993, quando um grupo armado ameaçou a comunidade trapista, caso não deixassem em breve o país. Diante da violência crescente e inclusive dos assassinatos de diversos religiosos e missionários cristãos, os monges de Tibhirine optaram por permanecer no país, mesmo diante do risco da morte, por amor e em solidariedade ao povo argelino. As ameaças continuaram por mais dois anos e meios e assumiram uma forma trágica na noite do dia 26 de março de 1996, quando o

UM CORAÇÃO ABERTO A TODOS

[PERDOAI  SEREIS PERDOADOS – Lc 6, 36] Um dos primeiros seguidores de Josemaria Escrivá – filho de um destacado republicano perseguido por Franco, que conseguiu salvar a vida exilando-se na Argélia – foi Pedro Casciaro, então estudante de Matemática e de Arquitetura em Madrid. Esse rapaz pôde acompanhar São Josemaria em todas as aventuras  do período conturbado da preguerra e da guerra e, por isso, é testemunha valiosa, sobretudo porque deixou suas memórias escritas num excelente livro, já publicado no Brasil:  Sonhai e  ficareis aquém  (Ed. Quadrante, 2013) . Conta Pedro que o Padre (assim o chamavam todos) «nos infundia serenidade e a sua atitude ponderada e equânime contrastava totalmente com o ambiente radicalizado que nos cercava. Jamais discutia sobre questões políticas: os seus juízos sobre o que estava acontecendo eram sempre profundamente sacerdotais… Sofria muito: pela Igreja e pela situação de seu país, que tanto amava; e respeitava, no que se refere à vida pública, to

O pregador da misericórdia

[PERDOAI  SEREIS PERDOADOS – Lc 6, 36] 5. PREGADOR DA MISERICÓRDIA CRISTÃ Num asilo de emergência São Josemaria Escrivá, no período da guerra civil espanhola em que mais violenta foi a perseguição religiosa, refugiou-se na Legação de Honduras de Madrid, e lá permaneceu asilado – com alguns jovens que se contavam entre os primeiros membros  do Opus Dei –  de maio a agosto de 1937. Nessa perseguição, foram martirizados treze bispos, 4.184 padres diocesanos, 2.365 padres e irmãos membros de institutos religiosos,  283 freiras e numerosos leigos católicos. Muitos deles já foram beatificados ou canonizados. Como acontecia com outros asilos diplomáticos, aquela casa estava atulhada de refugiados. Todos eles, como São Josemaria Escrivá, fugiam de uma perseguição injusta, que punha em risco as suas vidas, além dos bens materiais, a família e a carreira. Tinham motivos de sobra para que neles – com os nervos em frangalhos –, fermentasse um forte ressentimento contra os perseguidores,

A História e Biografia de Thomas Merton

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Um monge trapista que encontrou o catolicismo após anos de busca espiritual ajudou a mudar as vidas de um grande número de pessoas nas décadas de 1950 e 1960. Thomas Merton nasceu em Prades, na França, em 1915. Sua família se mudou para os Estados Unidos no ano seguinte. A mãe de Merton, que era americana, morreu quando ele tinha 6 anos e seu pai, natural da Nova Zelândia, faleceu dez anos depois. Após estudar por um ano na Faculdade Clare, em Cambridge na Inglaterra, Merton voltou aos Estados Unidos e fez mestrado em inglês pela Universidade de Columbia. A combinação de sua condição de órfão com sua mente brilhante acabou transformando-o em um viajante ávido por experiências. Quando jovem, Merton adotou um estilo de vida que envolvia drogas, relações sexuais promíscuas e outros aspectos de vida boêmia. Então, em 1938, encontrou a Igreja Católica e sua vida virou drasticamente para outra direção. Depois de lecionar por dois anos na Universidade Boanaventure, Merton entrou para

Tão secreto quanto Deus

“ O eu interior é tão secreto quanto Deus e, como Ele, escapa a todo conceito que tente apoderar-se dele por completo. É uma vida que não pode ser pega e estudada como um objeto, porque não é “uma coisa”. Não é alcançada nem pode ser persuadida a deixar de se esconder, seja qual for o processo que exista sob o sol, inclusive a meditação. Tudo o que podemos fazer com qualquer disciplina espiritual é produzir dentro de nós um pouco de silêncio, humildade, desinteresse, pureza de coração e desapego que se fazem necessários para que o eu interior faça uma tímida e imprevisível manifestação de sua presença.” The Inner Experience: Notes on Contemplation , de Thomas Merton. Editado por William H. Shannon (HarperSanFrancisco, a Division of HarperCollinsPublishers, New York), 2003. p. 7

Temor da força de Deus

“ A fumaça branca subindo no vale, contra a luz, lentamente assumindo a forma de animais, contra o fundo escuro das colinas cobertas de bosques. Ameaçadoras e plácidas, vindas talvez de queimadas na mata, talvez de uma casa, provavelmente não de uma casa. Manhã fria e quieta, olho os carrapatos na escrivaninha. Nada produzo. Talvez eu seja mais forte do que imagino. Talvez tenha medo da minha própria força e me volte contra mim mesmo para me enfraquecer. Talvez o que eu mais tema seja a força de Deus em mim. Simplesmente é tempo de rezar com convicção pelas necessidades do mundo todo e se despreocupar de outras formas de ação aparentemente “mais eficazes”. Para mim, a oração vem primeiro, seguem-se as outras formas de ação, se é que há lugar para elas. E sem dúvida existe, de alguma forma.” A Year with Thomas Merton, Daily Meditations from His Journals Selecionado e editado por Jonathan Montaldo ( HarperSanFrancisco , A Division of HarperCollinsPublishers, New York), 2004, p. 370